A Tecnologia a Serviço da Educação Musical

O texto a seguir descreve, em formato de artigo, as ideias principais que levaram à criação da plataforma virtual de ensino de música Polifono.com. Esse conteúdo é indicado para professores de artes, professores de música, diretores de escolas, secretários de educação, secretários de cultura, vereadores e demais políticos, assim como, para pais de alunos e outros interessados no ensino escolar. Quaisquer dúvidas sobre os assuntos apresentados ou sobre a plataforma de ensino de música desenvolvida, sinta-se à vontade para nos enviar uma mensagem em polifono@polifono.com. Boa leitura!

RESUMO

Este projeto de pesquisa documentará a utilização de uma plataforma digital de educação musical em sala de aula na disciplina de Artes por um professor sem formação específica em música. Com o advento da Internet e da evolução tecnológica, surgiram novos materiais didáticos para os professores. O ensino híbrido, a personalização e a tecnologia na educação são algumas das linhas que vêm sendo estudadas. Conforme a legislação, o professor de Artes é o responsável pelo ensino de música em sua disciplina, porém se ele não tem a formação específica em música, levantamos algumas questões: Como atender ao prazo disposto na Lei 3.278/16? Como preparar os professores de Artes para trabalhar com música? Como a tecnologia pode ajudar na educação? No projeto, serão recolhidos dados do trabalho do professor da disciplina de Artes fazendo uso de uma plataforma digital de ensino de música, criando uma contextualização entre as políticas públicas atuais relativas ao ensino de música nas escolas, com dados historiográficos da educação musical no Brasil. A plataforma utilizada no projeto encontra-se no endereço www.polifono.com e todo o planejamento e conteúdo inserido foi elaborado pelo próprio pesquisador.

Palavras-chave: Tecnologia na educação. Música na escola. Ensino híbrido. Educação musical a distância.

REVISÃO DE LITERATURA, PROBLEMATIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

O ensino de música nas escolas brasileiras é um tema que há muito tempo vem sendo discutido e, convém analisar, observando as dificuldades encontradas nas tentativas de implantar o ensino de música na grade curricular nas escolas ao longo da história, os erros e acertos dos sistemas propostos nas diferentes épocas em que se tentou inserir aulas de música no ensino básico na educação do Brasil.

Já na primeira metade do século XX, segundo PAZ (1989), Villa-Lobos sugeriu o Canto Orfeônico como disciplina em todas as escolas do ensino regular, onde a intenção não era exclusivamente formar músicos virtuosos ou teóricos, mas sim propiciar para a população o acesso e o cultivo do gosto pela música. O projeto de Villa-Lobos teve sustentação política e financeira no governo de Getúlio Vargas, pois a intenção almejava alcançar todas as escolas do país (PAZ, 1989). Segundo HARDER (2006, p.5) “Mais de meio século após a implementação do Canto Orfeônico no Brasil, pesquisadores vêm buscando fatores que explicariam a falência do modelo brasileiro perante o relativo sucesso do modelo europeu”. Mesmo sendo implantados alguns cursos no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Rio de Janeiro em 1942 para capacitar os novos professores de educação musical, o sistema proposto por Villa Lobos foi gradativamente perdendo o fôlego a partir da segunda metade da década de 1940 (HARDER, 2006).

A partir de 1996, a criação da Lei 9394/96 (alterada pela Lei nº 11.769/08) dispõe da obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. Em posterior alteração, a Lei nº 13.278/16 colocou o ensino de música entre as linguagens que constituem o componente curricular dentro do ensino de Artes (artes visuais, dança, música e teatro). Com essa regulamentação, acentua-se a necessidade da polivalência nas linguagens artísticas do professor de Artes. É também estabelecido um prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino implantem as mudanças decorrentes dessa lei, incluída a necessária e adequada formação dos respectivos professores em número suficiente para atuar na educação básica.

Lei nº 13.278/16 – Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.
Art. 2o O prazo para que os sistemas de ensino implantem as mudanças decorrentes desta Lei, incluída a necessária e adequada formação dos respectivos professores em número suficiente para atuar na educação básica, é de cinco anos.

Contudo, uma importante questão levantada ainda está em busca de resposta: Como preparar os professores de Artes para trabalhar com o ensino de música? Essa pergunta nos faz refletir sobre a importância de uma investigação sobre como está a realidade do componente curricular relacionado ao ensino de música nas escolas de educação básica do Brasil. Ao contextualizarmos o passado e o presente, temos condições de estudar caminhos que possibilitem visualizar uma direção que oriente positivamente o ensino de música na educação básica no Brasil.

Um desses caminhos estudados que está em voga é o ensino híbrido. Sua abordagem pedagógica combina atividades presenciais e atividades realizadas por meio das tecnologias digitais de informação (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015).

Entre as habilidades descritas no texto da Base Nacional Comum Curricular, é citado “Explorar e analisar elementos constitutivos da música (altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo, etc.) por meio de recursos tecnológicos (games e plataformas digitais), jogos, canções e práticas diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais” (BRASIL p. 206).

Este projeto será implantado em uma escola pública de educação básica e, para isso, é preciso primeiramente levantar as questões: Como a escola está trabalhando a educação musical? Que método está sendo utilizado? As ferramentas tecnológicas disponíveis na escola estão sendo utilizadas? O desafio conceitual sobre educação musical na escola instigou a reflexão para buscar um formato metodológico que possa dar ao ensino de música a qualidade e o respaldo necessário, utilizando a ferramenta digital para conseguir abranger os objetivos de uma educação musical plena.

Seguindo esse raciocínio, este projeto de pesquisa vai implantar em uma escola pública um sistema em formato de plataforma digital de ensino de música na disciplina de Artes. O instrumento musical a ser utilizado no ensino coletivo será a flauta doce. A escolha desse instrumento se deu por ser um instrumento de baixo valor comercial e por ter um tamanho que pode ser facilmente transportado pelos alunos.

A aula de música online será tutoreada pelo professor da disciplina de Artes acessando a plataforma digital do sistema com o seu login. O ambiente de estudo será a sala de multimídia da escola, onde os alunos assistirão a vídeo-aula e lá farão a leitura do conteúdo textual disponível no sistema, praticando coletivamente os exercícios e desenvolvendo as técnicas para tocar flauta doce. Os vídeos, com um tempo de duração médio de 5 a 10 minutos, foram elaborados com níveis gradativos de dificuldade, sempre pensando no aprendizado coletivo, desenvolvendo a musicalidade do grupo como um todo.

Cada aluno – com seu cadastro próprio no sistema – pode acessar o conteúdo estudado na aula para praticar em casa ou em qualquer ambiente com Internet nos horários extracurriculares. Cada aula de música da plataforma digital tem um questionário avaliativo que deve ser respondido para que o sistema libere a próxima aula. O cadastro do professor contém funcionalidades que lhe permitem observar individualmente o desempenho e a frequência de cada um de seus alunos. O professor de Artes, utilizando o material virtual para a educação musical de seus alunos, estará ao mesmo tempo que ensinando seus alunos, desenvolvendo sua própria formação continuada em música. Além do material didático, o professor contará com o auxílio de uma equipe online para tirar dúvidas sobre o sistema, sobre o conteúdo e sobre o ensino de música. Essa plataforma digital encontra-se endereçada em www.polifono.com.

Todo o planejamento, vídeos, questões e conteúdo de música inserido na plataforma digital foi elaborado pelo próprio pesquisador. Não obstante, o conteúdo quando passível de novo entendimento ou melhorias pode sofrer reformulações, pois diferente de um livro didático físico impresso, o conteúdo inserido em uma plataforma digital tem a vantagem de ser modificado e melhorado a qualquer momento.

A demanda crescente de cursos de música online acrescenta ainda mais força para a eficiência da utilização das plataformas virtuais como material de aprendizado, justificando a utilização dessa ferramenta como proposta de ensino. No dizer de LÉVY (2009, p.175):

Uma vez que os indivíduos aprendem cada vez mais fora do sistema acadêmico, cabe aos sistemas de educação implantar procedimentos de reconhecimento dos saberes e savoir-faire adquiridos na vida social e profissional.

Nesse ponto de vista, temos a necessidade de levantar algumas questões específicas para poder efetivamente colaborar com o desenvolvimento da educação musical na educação básica: Como os alunos irão responder à utilização da educação híbrida? Como será essa nova relação com o saber musical e a construção do conhecimento pelo professor de Artes? A educação musical coletiva terá êxito utilizando uma plataforma de ensino de música? Os objetivos desse projeto buscam encontrar as respostas dessas e de outras perguntas que possam surgir, conforme evolução do projeto e da utilização do material virtual.

Assim, pela importância sociocultural do assunto tratado e motivado por documentar os resultados, justifica-se essa pesquisa para analisar os dados, buscar conceitos, princípios, relações e significados, que com o devido esforço intelectual, possa alcançar os objetivos propostos.

Pesquisando a relação música sociedade e suas implicações, FREIRE (2010, p.205) em sua investigação percebe que as discussões com os alunos da Escola de Música da UFRJ direcionavam-se para o entendimento de que a arte, a música e a educação são instrumentos de transformação individual e social. Essa conexão no trabalho da autora entre música e sociedade confirma que o estudo de música no ambiente escolar, assim como no contexto da sociedade, pode ser transformador, por consequência deve atribuir-se de um papel melhor definido no ensino escolar.

Considerando a importância desse assunto, bem como os prazos para o cumprimento da Lei nº 13.278/16, somado à pesquisa historiográfica da educação musical no Brasil e sobre os métodos de ensino de música sugeridos em diferentes épocas, contextualizando-os com esse novo sistema de educação musical com o ensino híbrido proposto, justifica-se a elaboração de uma documentação científica que possa dar credibilidade e suporte à funcionalidade do projeto apresentado. É notável ressaltar que os resultados obtidos com esta pesquisa científica possam ter um grande valor como instrumento de pesquisa para outros pesquisadores que se proponham a estudar a utilização das novas tecnologias digitais no ensino de música na educação básica, bem como as ações das políticas públicas pertinentes ao assunto.

Com o devido trabalho, é justo imaginar que esse documento possa também ter grande relevância para o estudo de novas metodologias de ensino de música que busquem incorporar os meios digitais, traduzindo-se em um verdadeiro ato ensino-aprendizagem e concomitante inclusão sociocultural do aluno e professores envolvidos.

OBJETIVOS GERAIS

  • Verificar a eficiência das aulas de música em grupo com ensino híbrido (parte a distância e parte presencial) nas escolas de Ensino Básico;
  • Analisar uma ferramenta que sugere o ensino de música aos alunos e a capacitação do professor simultaneamente.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Desenvolver a formação continuada do professor da disciplina de Artes, capacitando-o adequadamente para atuar com o ensino de música na educação básica, atendendo ao prazo disposto na Lei nº 13.278/16, em específico no desenvolvimento do componente música do currículo escolar.
  • Consolidar a importância de novas ferramentas digitais em sala de aula oriundas da evolução tecnológica;
  • Contextualizar dados historiográficos da educação musical no Brasil com a proposta do projeto em implantar o ensino híbrido na educação básica;
  • Proporcionar ao professor da disciplina de Artes uma ferramenta digital para poder trabalhar com música (material didático, planejamento, instruções), tendo a flauta doce como instrumento;
  • Arguir estudos e métodos de ensino de música coletivo para nortear possíveis mudanças no conteúdo inserido na plataforma digital;
  • Desenvolver nos alunos das séries finais do ensino fundamental a prática de leitura musical, a habilidade com o instrumento flauta doce, iniciando com os alunos do 6º ano a utilização da linguagem musical como meio de produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretando e usufruindo das produções musicais;
  • Documentar e aprimorar a utilização da plataforma digital e ensino de música www.polifono.com na disciplina de Artes, sendo ela utilizada por um professor sem formação em música, em uma escola pública da cidade de Rio Negrinho/SC;
  • Divulgar os resultados obtidos fomentando novas pesquisas sobre Educação Híbrida no ensino de música e a capacitação de professores da disciplina de Artes;

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A BNCC – Base Nacional Comum Curricular identifica, na comunhão de princípios e valores, que a educação tem compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. Nas competências gerais, BNCC e currículos tem papéis complementares para assegurar as aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da Educação Básica. Essas decisões de adequar às proposições da BNCC, referem-se, entre outras coisas (BRASIL, p.17):

Selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender;
Criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem.

Na contemporaneidade, estar atualizado com as evoluções tecnológicas é essencial para o professor. O acompanhamento continuado dessas evoluções, em especial com os recursos tecnológicos e digitais que estão tomando cada vez mais espaço na educação, é um desafio inevitável.

Neste projeto, temos dois focos iniciais: um é o aluno e o outro é o professor de Artes. Ambos serão estudantes de música, porém ao professor cabe a competência de tutorear um assunto que para ele ainda é desconhecido. O professor passando também a ser aluno, fica-nos indispensável uma conceituação sobre como os adultos aprendem.

Andragogia e Heutagogia são ciências que estudam formas de aprender e, considerando a proposta do projeto de pesquisa, precisamos conhecê-las melhor. Adragogia é a ciência que estuda as formas de como os adultos aprendem, e nela se observa a formação de uma continuação com a pedagogia, mudando assim o foco da educação centrada no professor para a centrada no estudante (BELLAN, 2008). Segundo Bella, heutagogia é uma aprendizagem rápida e flexível que permite desenvolver a capacidade de aprender por si mesmo e aprimorar as habilidades pessoais. Essa prática de aprender por si só também merece atenção especial, sendo melhor esclarecida:

A Heutagogia imagina o aumento da autonomia do estudante, podendo escolher o quê e o como aprender em consonância com seus objetivos; consolida a mais recente visão sobre os fatores de sucesso na construção do conhecimento em que o instrutor ou professor atua como mediador e orientador das escolhas dos aprendizes, disponibilizando ambientes e ferramentas adequadas para a eficácia do processo. Surge, assim, a fase da aprendizagem dirigida ou autodeterminada, em que cada um se garante, realiza, arquitetando seu processo de construção do conhecimento. Entende-se que o modelo heutagógico deve ser associado à aprendizagem aberta por meios das tecnologias da comunicação, mas que ainda é uma área de estudos e pesquisas totalmente novos, oferecendo campo de possibilidade para desenvolvimento de pesquisas. (COELHO; DUTRA; MARIELI, 2016, p.105).

É importante que haja uma compreensão com relação às formas andragógicas e heutagógicas para que possamos desenvolver cada vez melhores condições na capacitação dos professores de Artes para trabalhar com música em sala de aula.

Estamos frente a um grande desafio que, mesmo conscientes da sua importância, ainda precisa ser melhor estudado e mais experimentado para que possamos chegar a conclusões assertivas. Segundo LÉVY (2009), a educação neste cenário “digital” é exposta há um grande desafio: transmitir conhecimento frente ao fluxo de informação massivo existente, bem como seus recursos de acesso. O autor sinaliza o papel das tecnologias intelectuais como proporcionadoras de novas formas de acesso à informação, raciocínio e de construção do conhecimento (2009, p. 177):

Aprendizagens permanentes e personalizadas através da navegação, orientação dos estudantes em um espaço do saber flutuante e destotalizado, aprendizagens cooperativas, inteligências coletiva no centro de comunidades virtuais, desregulamentação parcial dos modos de reconhecimento dos saberes, gerenciamento dinâmico das competências em tempo real… esses processos sociais atualizam a nova relação com o saber.

Ainda sobre o papel do professor, independentemente de sua área, o professor deve se atualizar constantemente, modificando suas metodologias para incorporar novos recursos, com a intenção de transmitir o conhecimento de forma significativa, trazendo mais perto a realidade contextual do aluno (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002).

Todavia, é necessário destacar que a metodologia não se resume somente às técnicas de ensino, o uso de vídeo, trabalhos em grupo ou aula expositiva. LIBANEO (2003) pontua que a boa aplicação dos conceitos pedagógicos por parte do professor é a capacidade de traduzir, didaticamente, os processos de investigação e a linha de pensamento da ciência que se ensina. Para o presente projeto esse pensamento eleva a atenção para a formação continuada em música do professor da disciplina de Artes para com seus alunos.

Considerando esse raciocínio, foi elaborada a plataforma digital de ensino de música que será utilizada pelo professor da disciplina de Artes e também por seus alunos, público-alvo do presente projeto. Estaremos dessa forma fazendo uso do ensino híbrido, personalizando a aprendizagem, que no ponto de vista dos alunos: “é o movimento de construção de trilhas que façam sentido para cada um, que os motivem a aprender, que ampliem seus horizontes” (BACICH e MORAN, 2018, p.5). Segundo os autores, o termo personalização é considerado como criar experiências de aprendizagem que cumpram, mais aproximadamente, às intenções individuais do estudante, seja ela relacionada ao tempo que se demora para aprender ou pelas maneiras de aprender, seja tratando até de o que aprender (conteúdos distintos que sejam significativos para cada estudante) (BACICH e MORAN, 2018)”. A aprendizagem personalizada irá combinar nesse projeto as atividades presenciais (estudos e práticas coletivas), com atividades individuais (estudo e prática individual), deixando dessa forma o aluno ser colocado como foco central no processo de aprendizagem.

Há muitos trabalhos de professores e pesquisadores com reflexões, pesquisas e investigações sobre o papel da música na sociedade, assim como estudos direcionados para o ensino de música nas escolas. Alan Merrian descreveu dez categorias principais das funções da música na sociedade (MERRIAN, 1964). Mesmo tendo realizando seus estudos nos anos 60, as funções citadas pelo autor resumem o papel da música na cultura humana, fato que explica sua obra ser tomada como estudo em pesquisa por vários educadores musicais.

SWANWICK (2003, p.49) diz que “Em contrapartida alguns dos itens da lista de Merrian tendem a estar vinculados a sistemas mais ou menos fechados de signos”. Em análise, Swanwick divide em dois olhares as categorias listadas por Allan Merriam, sendo um olhar à transmissão de cultural, e o outro à reprodução cultural. O autor questionando o entendimento específico de algumas das funções listadas por Merriam, levanta a necessidade dos educadores direcionarem-se mais para as funções que busquem a transformação cultural e não apenas a reprodução cultural (SWANWICK, 2003). O autor acentua sua posição com os cuidados que devem tomar os professores ao se comprometerem somente com relação às funções descritas por Merriam, considerando-as como tímidas e culturalmente limitadas, acentuando a importância da utilização das funções da música voltadas para a construção de significados.

Essas e outras reflexões vão fornecendo suporte no entendimento para nortear as melhorias no conteúdo inserido na plataforma como um todo. Com o devido estudo, pretende-se chegar próximo a um consenso que objetive ampliar a qualidade do material didático proposto pelo presente projeto.

Como a proposta do projeto é direcionada para os alunos do 6º ano do fundamental, idealizando se estender aos anos seguintes, seguimos fundamentados também pelas orientações de acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental de Arte (BRASIL, p.61):

Desde os ciclos anteriores os alunos vêm se apropriando das questões relativas ao conhecimento da arte. Nos terceiro e quarto ciclos os alunos de quinta a oitava séries mostram, gradativamente, que podem dominar com mais propriedade as linguagens da arte e tendem a refletir e realizar trabalhos pessoais e ou grupais com autonomia. O prazer que os alunos têm em explicitar argumentos e proposições pessoais, que estão relacionados aos conhecimentos prático e teóricos já adquiridos e construídos, promove seu desenvolvimento nas experiências de aprendizagem.

O conteúdo musical da plataforma digital de ensino de música contempla alguns conhecimentos sugeridos nos objetivos gerais de música dos PCNs (BRASIL p. 81):

Desenvolver a percepção auditiva e a memória musical, criando, interpretando e apreciando músicas em um ou mais sistemas musicais, como: modal, tonal e outros. Pesquisar, explorar, improvisar, compor e interpretar sons de diversas naturezas e procedências, desenvolvendo autoconfiança, senso estético crítico, concentração, capacidade de análise e síntese, trabalho em equipe com diálogo, respeito e cooperação.

Para reforçar ainda mais a escolha dessa etapa da educação básica, essa próxima citação considera que (BRASIL p.79):

O adolescente/jovem dos terceiro e quarto ciclos da escola de ensino fundamental, em fase de muitas experimentações, pode aprender a explorar diferentes estruturas sonoras, contrastar e modificar ideias musicais. A partir de suas condições de interpretação musical, expressividade e domínio técnico básico, pode improvisar, compor, interpretar, explorando diversas possibilidades, meios e materiais sonoros, utilizando conhecimentos da linguagem musical, comunicando-se e expressando-se musicalmente.

Com relação a parte prática do instrumento, os ensaios coletivos e individuais nas séries finais abraçam um dos diferenciais sugeridos como objetos de conhecimentos e habilidades no ensino de Arte fundamentado na BNCC – Base Nacional Comum Curricular, (2016 p.206):

Explorar e identificar diferentes formas de registro musical (notação musical tradicional, partituras criativas e procedimentos da música contemporânea), bem como procedimentos e técnicas de registro em áudio e audiovisual.

Essas afirmações fundamentam a escolha dos alunos e do professor das séries finais do ensino fundamental a serem os contemplados como público-alvo para a implantação do projeto apresentado.

A base de apoio para desenvolver o conteúdo da plataforma digital e criar condições para que a escola possa permitir aos alunos das séries finais do ensino fundamental o acesso ao conjunto de conhecimentos, também tiveram fundamentação nos documentos supra citados. Tais documentos foram resultado de um longo trabalho de muitos professores, pesquisadores e educadores brasileiros de diferentes graus de ensino.

Há consciência de que, no decorrer do cronograma do presente projeto, novas concepções possam surgir, e com elas, possíveis mudanças para avançar no quesito qualidade do conteúdo inserido, assim como na forma metodológica proposta.

METODOLOGIA

Optamos pela utilização da pesquisa qualitativa para a formulação e recolha dos dados. Uma pesquisa aplicada descritiva abordando o desenvolvimento do projeto levantará as informações necessárias, familiarizando o pesquisador com o objeto de estudo.

O primeiro passo será preparar o professor de artes selecionado para o projeto, e isso se dará através das reuniões iniciais seguindo o cronograma. Através das orientações da utilização da plataforma digital, sua familiarização com o sistema acontecerá de forma natural. A partir da primeira reunião o professor já inicia seus estudos de flauta doce para estar sempre alguns passos à frente dos alunos, tendo assim mais confiança quando iniciar os trabalhos em sala de aula com a plataforma digital.


Ao começar o uso da plataforma digital de ensino de música em sala de aula, faremos uso da pesquisa explicativa para a produção de relatórios que documentem o desenvolvimento do projeto em sala. Também será colhido um questionário inicial para os alunos e para o professor.

Serão feitas algumas entrevistas com os alunos nos primeiros contatos com a educação híbrida para documentar suas opiniões iniciais e quais suas perspectivas. Outras entrevistas serão feitas na metade do projeto e outras no final, contextualizando as perspectivas inicias dos alunos e do professor com seus pareceres ao final do projeto.

Os questionários respondidos pelos alunos e pelo professor serão utilizados como ferramentas para analisar e contextualizar os conhecimentos e benefícios que o estudo de música proporciona ao vivenciar o formato proposto pelo projeto. Esses relatórios documentarão o progresso no desenvolvimento musical, a percepção auditiva e memória musical, o desenvolvimento da auto confiança, senso estético crítico, concentração, trabalho em equipe, respeito e cooperação, em conformidade os objetivos gerais orientados pelos PCNs de Arte do terceiro e quarto ciclos (BRASIL p.81-86). A produção dos questionários serão de caráter individual e coletivo. Na análise da observação no desempenho dos alunos, haverá questionários diferentes para os alunos que alcançarem os melhores desempenhos dos que alcançarem menores desempenhos na prática musical. Essa diferença nas perguntas busca compreender um pouco mais quais os motivos que levam um aluno ter mais interesse que outro nas aulas de música.

As entrevistas e questionários direcionadas ao professor de Artes identificarão o seu próprio desenvolvimento como professor de música. Será analisado quais as dificuldades e facilidades que o mesmo encontrou com a utilização do sistema digital de ensino híbrido. Suas opiniões individuais, dificuldades e momentos com resultados positivos serão ferramentas para a estruturação contexto do presente projeto, que visa entre seus objetivos a formação continuada do professor de Artes.

Um levantamento historiográfico da educação musical no Brasil, de métodos de ensino coletivo de música e obras afins serão buscadas estruturar uma abordagem comparativa com a proposta trabalhada, orientando o alcance dos objetivos propostos no projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELLAN, Zezina. “Andragogia em ação”: Como Ensinar Adultos Sem Se Tornar Maçante. São Paulo: Z3, 2005.

BACICH, L; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F.M. (org) Ensino híbrido, personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

BACICH, L; MORAN, J. (org) Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2016. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio> Acesso em: 18/01/2019

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Arte Ensino Fundamental. Terceiro e Quarto ciclos. (PCNs). Brasília: MEC/SEF, 1998. SEF, 1998.

COELHO, Marco A. P.; DUTRA, Lenise R.; MARIELI, Joane. Andragogia e Heutagogia: práticas emergentes na educação. 107 páginas. Disponível em <www.fsj.edu.br/transformar/index.php/transformar/article/download/87/83>. Acesso em: 18/01/2019

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.

FREIRE, V. B. Música e sociedade: uma perspectiva histórica e uma reflexão aplicada ao ensino superior de música. 2ª ed. revista ampliada. Florianópolis. ABEM, 2010. 304 paginas.

HARDER, Rejane. A falência do sistema musical de Villa-Lobos. O sistema de educação musical de Villa-Lobos vs. O ensino de música nas escolas brasileiras da atualidade: um olhar comparativo, v.1, p.5, 2006. Revista Formadores. Faculdade Adventista da Bahia

LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 1999.

LIBÂNEO, J.C. et al. Educação Escolar: política estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003

MERRIAM, A. O. The anthropology of music. Evanston: Northwestern University Press, 1964.
PAZ, Ermelinda A. Heitor Villa-Lobos, o Educador . Brasília: INEP/MEC, 1989.
17. Pedagogia musical brasileira no século XX: metodologias e tendências. Brasília: MUSIMED, 2000.

SWANWICK, K. “Esinando música musicalmente”. São Paulo: Moderna, 2003.

SWANWICK, K. Keith Swanwick fala sobre o ensino de música nas escola. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1017/keith-ewanwick-fala-sobre-o-ensino-de-musica-nas-escolas> acesso dia 23/10/2019

 

Link para a matéria do site da cidade de Rio Negrinho/SC descrevendo a aplicação do projeto: https://www.rionegrinho.sc.gov.br/noticia/2362/tecnologia-usada-para-inovar-na-educao

Link para a matéria premiando a plataforma Polifono.com como o melhor negócio criativo: https://www.matogrossoeconomico.com.br/index.php?/noticias/programa-de-pre-aceleracao-ideacao-premia-novos-empreendedores-em-mato-grosso/16891

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